Nesta ermida havia uma cruz muito antiga, e muitos iam até ali para pedir a Cristo que fizesse algum milagre.
Certo dia, o eremita Haakon quis também pedir-Lhe um favor.
Impulsionava-o um sentimento generoso.
Ajoelhou-se diante da cruz e disse:
- Senhor, quero padecer por Vós.
Deixai-me ocupar o Vosso lugar.
Quero substituir-Vos na cruz.
E permaneceu com o olhar pendente da cruz, como quem esperava uma resposta.
O Senhor, prontamente, abriu os lábios e disse-lhe, com palavras sussurrantes e admoestadoras:
- Meu servo, cedo ao teu desejo, mas com uma condição…
- Qual, Senhor ??? É uma condição difícil ???
Estou disposto a cumpri-la com a Tua ajuda. – indagou o eremita.
- Escuta-me: aconteça o que acontecer,
e vejas tu o que vires, deves sempre guardar o silêncio…
Haakon respondeu:
- Prometo-o, Senhor !!!
E fizeram a troca sem que ninguém o percebesse.
Ninguém reconheceu o eremita pendente na cruz.
Quanto ao Senhor, este ocupava, discretamente, o lugar de Haakon.
Durante muito tempo, o eremita conseguiu cumprir o seu compromisso e não disse nada a ninguém.
Certo dia, porém, chegou um rico homem.
Depois de orar, deixou ali esquecida a sua bolsa.
Haakon viu e calou-se.
Também não disse nada quando um pobre, que veio duas horas mais tarde, se apropriou da bolsa deixada pelo homem rico.
E também quando um rapaz se prostrou diante dele pouco depois de pedir-lhe a sua graça antes de empreender uma longa viagem.
Nesse momento, porém, o homem rico tornou a entrar em busca de sua bolsa.
Como não a encontrasse, pensou que o rapaz teria se apropriado dela.
Voltou-se para ele e o interpelou com raiva:
- Dá-me a bolsa que roubaste !!!
O jovem, surpreso, replicou-lhe:
- Não roubei nenhuma bolsa, senhor.
- Não mintas, devolva-me já !!!
- Repito que não apanhei bolsa alguma, senhor …
O homem rico arremeteu furioso contra o rapaz.
Soou, então, uma voz forte:
- Pára !!!
O homem rico olhou para cima e viu que a imagem lhe falava.
Haakon, que não conseguiu permanecer em silêncio diante daquela injustiça, gritou-lhe, defendeu o jovem rapaz e censurou o homem rico pela falsa acusação.
Este ficou aniquilado e saiu imediatamente da ermida.
O jovem rapaz saiu também porque tinha pressa para empreender a sua longa viagem.
Quando a ermida ficou vazia, Cristo dirigiu-se ao Seu servo e disse-lhe:
- Desce da cruz. Não serves para ocupar o Meu lugar.
Não soubeste guardar o silêncio que havia lhe pedido.
- Mas, Senhor, como podia eu permitir tal injustiça ???
Trocaram, pois, de lugar.
Cristo voltou a ocupar a Sua cruz e o eremita permaneceu diante dela.
O Senhor continuou a falar-lhe:
- Tu não sabias que era conveniente para o homem rico perder a sua bolsa, pois trazia nela o preço da virgindade de uma jovem donzela.
O pobre, pelo contrário, tinha necessidade daquele dinheiro.
Quanto ao jovem rapaz, que ia receber os golpes, as suas feridas o teriam impedido de fazer a longa viagem que, para ele, foi fatal.
Faz alguns minutos que o seu barco acabou de soçobrar e ele morreu afogado. Tu também não sabias disso, mas Eu sim !!!
É por isso que me calo…
E o Senhor tornou a guardar o Seu silêncio.
0 comentários:
Postar um comentário