“Meu Bem, me faz morrer!
Toda a noite durou este estado e esta manhã, na minha comunhão. Oh! Doce Amor, que de tão forte provei!
E sempre me continua;
não sei como conter-me, procuro estar em mim mesma mais que posso
e vou sempre pensando nas realidades da Obra.
Mas o meu Amor é forte e me vence. Quanto tenho medo que alguém perceba!
Tú, docíssimo meu Bem, poderias dizer que coisa sabe
fazer em uma criatura assim mesquinha e ignorante.
Oh! bondade infinita, amor, incompreensível!”
(Mem. p. 496)
Como seria surpreendente se tivéssemos como viajar no tempo e contemplar com os nossos próprios olhos o dia 6 de maio de 1900. Estar ali no quarto onde Madre Rosa viveu, sem dúvida, o momento mais belo e esperado da sua vida. Podemos chamá-lo o momento do encontro, da verdade, da vida; encontrar-se com o seu Sumo Bem e poder permanecer n’Ele por toda eternidade. Naquele momento, não somente o seu coração ardia, como tantas vezes nas suas memórias escutamos falar; mas agora, todo o seu ser queimava de amor pelo seu grande Amor. Olhar nos olhos do Amado, deixar-se seduzir e guiar-se por Ele, falar palavras de amor e fazer daquele momento a eternidade. Imagino que enquanto as irmãs ali presentes guardavam o seu corpo já sem vida, algo de maravilhoso acontecia. A partir daquele momento terminavam as dores, os sofrimentos, tudo aquilo que tanto machuca o nosso ser. Agora, nesse momento, somente alegria e vida.
Este foi, sem dúvida, o momento mais feliz de toda a vida da Madre, pois se concretizou aquilo pelo qual lutou toda a sua vida: ser inteiramente do seu Dileto Jesus, o seu amado Crucificado.
Sabemos que não é possível voltar àquele momento, mas ao entrar neste quarto, ao menos com a mente, e porque não dizer, neste lugar santo, podemos fazer memória daquele dia e, ao revivê-lo, encontrar forças para continuar o nosso caminho e tomar consciência de que também podemos vivê-lo se, como a Madre, formos ousados em antecedê-lo de uma vida de amor e doação.
Como nos custa viver este amor, como é difícil ter a coragem de perder tudo, de consumir-se em Deus e por Deus. Sabemos que neste amor teremos tudo, mas muitas vezes o buscamos em coisas passageiras e efêmeras. Nos iludimos, buscamos a vida, e aquilo que encontramos é a morte. Quantas vezes nos esquecemos que o amor a Deus não é feito de bonitas palavras, ou mesmo de ricos rituais, nos iludimos e deixamos de percorrer o verdadeiro caminho. Amar é, acima de tudo, deixar-se amar pelo Amor, e quando seduzidos por ele, sermos capazes de amar a tudo e a todos. Ver o outro como sacramento de Deus na nossa vida e, como por um milagre, nos decidirmos em perder tudo, esquecer-mos da nossa vontade, das nossas ideias, viver para fazer o outro feliz; viver para dar vida ao outro.
Achamos que quanto mais tivermos, mais seremos felizes, mas Madre Rosa, como grande discípula do Cristo, nos ensina que é dando tudo que se ganha o tudo, que é tendo a coragem de perder que podemos nos tornar grandes vencedores! Doar a vida é sempre muito difícil! Muitas vezes, pensamos somente em nosso bem estar, em nossa felicidade, achando que esta é destacada da felicidade dos outros. Somos egoístas e, tantas vezes, incapazes de amar por amar. Quando realmente amarmos, doar-se nunca será um peso, e sim, o sentido do nosso viver!
Neste dia tão especial, que possamos fazer uma grande festa pela nossa Madre, nossa mãe! Que sejamos capazes de deixar que estes sinais vividos hoje, possam nos convencer de que somente vivendo este amor-doação, tudo teremos. Quem dera este sonho se torne realidade e, sem dúvida, a partir de nós, um mundo novo começará a surgir! No amor, a nossa esperança será fortalecida, e mesmo que o Amado demore a vir, nosso coração deve sempre viver a certeza que no final, Ele sempre vencerá! Talvez a nossa missão seja simplesmente aquela de plantar, mas se temos esperança, sabemos com certeza de que um dia outros colherão.
Penso que hoje, o que a Madre mais nos teria a dizer seria: “CORAGEM, e com um fervoroso empenho imitemos *(a Cristo) em tudo, e junto a vós, estreitos como vos tenho no meu Caro Crucificado, façamos um voto ao Coração de Jesus de ser até a morte seus por toda eternidade.” (Lett. 230, vol 4)
Uma feliz festa de Madre Rosa!
Padre Leandro, fsa
* Neste texto a Madre se refere a Santa Rosa de Lima, mas podemos perceber que as virtudes que a Madre reconhece nesta santa, nos conduz de modo espontaneo a propria imitação de Cristo.